28 de mar. de 2007

7 Tendências de Comportamento que vão definir os Novos Tempos

O que vem por aí

Ampliar fronteiras há muito deixou de ser apenas uma questão de geografia. Agora, olhar o horizonte é também se adiantar no tempo e deixar a intuição abrir caminhos. Nesta edição, em que BONS FLUIDOS completa 7 anos, fomos buscar sete tendências de comportamento que vão deixar você mais presente e conectado ao mundo.

Texto: Ana Holanda

O diretor de cinema Stanley Kubrick imaginou um futuro sóbrio para a humanidade em 2001: uma Odisséia no Espaço. Ganhador de melhor Oscar de efeitos especiais e considerado um clássico entre os admiradores do gênero, o filme, produzido em 1968, prevê um futuro asséptico, rodeado de máquinas e relações frias. Um amanhã pouco otimista também é traçado em uma produção mais recente: Gattaca – A Experiência Genética, de 1997. Com elenco de liberar suspiros – tem atores como Ethan Hawke e Uma Thurman –, a fita mostra um século (o nosso) dominado por experiências genéticas e seres em busca da perfeição. Aliás, os imperfeitos – aqueles com problemas banais, como miopia – eram excluídos e designados para trabalhos considerados menos nobres. O figurino é escuro, com muito cinza e preto e os personagens passam longe de expressões que denotem emoções mais fortes.
A boa notícia é que o futuro imaginado pelos diretores de cinema deve ficar mesmo na ficção, ao menos na visão de alguns analistas. Devemos ter, sim, mais afeto e menos frieza. Mais emoção, menos compulsão. Menos inquietação com o próprio corpo e mais autoaceitação. E isso não quer dizer abandono da cirurgia plástica, menos consumo ou repulsa à tecnologia – porque continuaremos a conviver com tudo isso. Pelo menos é o que indicam os especialistas em tendências, gente que estuda os caminhos pelos quais estamos seguindo. São profissionais que se dedicam a entender o comportamento humano ou, como diz o sociólogo Dario Caldas, autor do livro Observatório de Sinais – Teoria e Prática da Pesquisa de Tendências (ed. Senac). E eles se empenham em perceber e analisar os sinais que as pessoas estão emitindo. Isso se baseia, de certa forma, em experiências cotidianas: que músicas estamos ouvindo, quais os passeios prediletos, o que esperamos das relações afetivas, quanto tempo dedicamos ao descanso. Enfim, são as nossas atitudes de hoje que ditam o amanhã. E como será esse amanhã? Os especialistas – psicólogos, antropólogos, sociólogos – dizem que a resposta depende de nossos desejos, anseios e vontades.

Vale saber: as sete palavras que serão freqüentes no vocabulário.

1. CONEXÃO

Eles nasceram no período de crescimento econômico, pós-Segunda Guerra Mundial. Na década de 1960, eram jovens e promoveram mudanças na estética e no estilo de vida – ouviam rock and roll, se vestiam de acordo com a música e alavancaram toda uma geração de consumo. São os chamados baby boomers. “Eles revolucionaram o mundo, assim como os jovens que completaram 20 anos no início deste século, que é a geração zapping”, conta Rony Rodrigues, publicitário diretor da agência Box 1824, que pesquisa tendências para empresas como Unilever, Nokia, Pepsico e Grendene. Rony explica que a geração zapping foi alfabetizada ao mesmo tempo em que entrou no mundo virtual e isso fez com que desenvolvessem a habilidade de fazer tudo junto e ao mesmo tempo: navegar na internet, conversar por meio de mensagens instantâneas e assistir TV. Por conta disso, a linguagem, antes linear, da esquerda para a direita, se transformou em um hiperlink, em que é possível trabalhar com 15 janelas virtuais abertas na mesma hora.

A VIDA COMEÇA AGORA
Na esteira disso, veio outro movimento: a geração de baby boomers, que dizia, quando era jovem, “não acredite em ninguém com mais de 30”, ultrapassou hoje os 40 e mudou o discurso para “a vida começa aos 40”. “As pessoas chegaram à maturidade e querem captar os códigos, o jeito de se comunicar para manter a mente jovem: saber os assuntos que estão na moda, a estética, acompanhar os ritmos do tempo”, diz Rony.
Isso não significa que é preciso se vestir como um adolescente. É saber pensar como um – pelo menos quando o objetivo é incorporar o tanto de informações e novidades que caminham a passos rápidos no mercado corporativo.
Para a fonoaudióloga Ana Alvarez, especialista em memória, qualquer um pode desenvolver a habilidade para compartilhar várias informações. A diferença é que atualmente as crianças aprendem a lidar com isso mais cedo.
O que vemos é a união do jovem com o mais velho: o primeiro tem a velocidade, e o segundo, o filtro, porque sabe separar do tanto de informação disponível o que vale a pena. Isso graças a algo que não tem tempo que acelere: a tal da maturidade. É um movimento de polarização entre o saber intelectual e maduro e as novas plataformas virtuais. O resultado é que uma geração depende da outra, em um movimento constante de renovação. “É o que se chama de ‘memória do futuro’: a capacidade de usar o passado para empreender novas idéias”, afirma Alvarez.

2. EXPERIMENTAÇÃO

Não adianta acreditar em um futuro com menos trabalho e menos estresse e mais lazer. Desculpe, isso não vai acontecer. Muito pelo contrário. O número de horas trabalhadas só tende a aumentar, de acordo com dados da International Stress Management Association (Isma-Brasil), associação que estuda o estresse e suas formas de prevenção. Qual a saída, então? Comprar mercadorias e contratar serviços que tragam alívio à tensão diária. A idéia foi defendida pela inglesa Barbara Kennington, diretora editorial e de criação do site WGSN, especializado em pesquisa de tendências e que recebe o aval de outros estudiosos da área. Estamos entrando numa era de consumo mais emocional.

Na nova onda vem...
Carros que tragam mais conforto. Só que o ponto de atração não é o luxo interno em si, mas os lugares relaxantes aos quais o tal carro pode levá-lo.
Roupas que, quando vestidas, nos remetam ao aconchego. Vale uma jaqueta que dê a sensação de abraço. Ou o tênis, como o lançado recentemente por uma marca esportiva que parece uma dessas sapatilhas cor-de-rosa que toda menina usou na infância.
Os e-tags, que são etiquetas tradicionais, só que com um microchip. As informações contidas nesse chip podem ser enviadas por radiofreqüência. É possível colocar dados pessoais: qual o drinque predileto (e o restaurante o providencia antes que você chegue) ou os aparelhos da academia que você mais usa (e eles estarão reservados quando você colocar os pés no lugar).

3. ECOCONSUMO

Nos Estados Unidos, uma das empresas de maior resultado no ano passado não figura entre as de tecnologia. É uma rede de supermercados, a Whole Foods, que vende em suas lojas apenas produtos orgânicos. O requinte é tão grande que os fornecedores de carne precisam provar que os animais – no processo de abate e transporte – foram criados e transportados com compaixão.
A preocupação não é a destruição do meio ambiente, mas outro olhar: a preservação de si mesmo. “Tivemos o individualismo dos anos 1980, da era pós-moderna, que tinha um tom narcisista, era a busca do prazer e da diversão. A partir de 2001, mudamos o foco. Ainda vivemos um momento de individualismo, mas é diferente porque não é narcisista, mas de autopreservação”, diz Dario Caldas.
Dá para perceber isso na forma como estamos cuidando mais de nós e, principalmente, na maneira como consumimos. O foco são os produtos socialmente responsáveis ou os que oferecem, de alguma maneira, um extra – isso é chamado de Consumo Ético. Por exemplo, a American Express, empresa de cartão de crédito, nos EUA, lançou um programa de ajuda social relacionada aos gastos no cartão. Um por cento do valor da fatura é doado para organizações humanitárias de auxílio às vítimas da aids na África. A mesma empresa de orgânicos, a Whole Foods, fez uma pesquisa entre seus consumidores há cerca de dois anos para saber, afinal, por que eles preferiam os orgânicos. Os motivos eram diversos: porque não trazem danos ao meio ambiente, são bons para a saúde e ajudam a desenvolver os negócios de pequenos produtores. E muitos afirmaram também que o sabor é melhor do que os não-orgânicos.
Até mesmo grandes redes de fast food estão percebendo isso e mudando sua maneira de vender os lanches. No Brasil, a rede de lanchonetes McDonald’s vende saladas e frutas. Na Inglaterra, a mesma empresa já oferece leite orgânico no cardápio. Para a guru de tendências americana Marian Salzman, autora do livro Next Now – Trends for the Future (sem tradução para o português), a onda deve ir além. “Até mesmo as dietas chegarão a requintes de personalização. E haverá não a dieta Atkins, mas a sua dieta, feita de acordo com seu tipo sanguíneo, estilo de vida, origem étnica. Agora, nós entendemos que ‘você é o que você come’ também no nível das células”, afirma Salzman em seu livro, lançado em dezembro nos EUA.

4. DIVERSÃO

O badalado filósofo sueco Alain de Botton acabou de lançar o livro Architecture of Happiness (ainda sem tradução para o português). A obra trata dos novos formatos das casas, de acordo com a estrutura das também novas famílias e ainda com uma tendência para lá de forte: ficar cada vez mais dentro de casa. É por conta disso que é crescente a quantidade de pessoas organizando saraus, sessões de cinema, e encontros em seu lar.

Isso é um reflexo da ansiedade que vivemos e da violência.
Outro ponto é o que os especialistas chamam de escapismo: transformar a casa em seu universo, que pode, inclusive, ser quase um mundo mágico porque faz esquecer o que está acontecendo do lado de fora. Nos Estados Unidos, já existem imóveis com decoração toda medieval ou as “casas museus”, em que se sente dentro de um. Outra linha é a do happy design: são objetos, art toys, que divertem. Tudo com muita cor e formato engraçado, lúdico mesmo.

Minha segunda vida
Uma sociedade quase alternativa. Mas não na versão ecologicamente correta que você está imaginando. Neste ano, você vai ouvir falar – e muito – de um site que virou coqueluche nos Estados Unidos, da mesma maneira que foi, um dia, o site de relacionamento Orkut. Estamos falando do Second Life, ou Segunda Vida. É uma rede de relacionamentos também, só que nela o internauta assume outra vida, como em um game. O programa foi desenvolvido pela empresa americana Linden Labs e já tem mais de 3 milhões de “residentes”. Existem, inclusive, brasileiros participando – somos a quarta maior comunidade da rede, atrás dos Estados Unidos, da França e da Alemanha. Ainda neste semestre, deve ganhar versão em português.
Para
participar do Second Life, é preciso comprar a moeda local (liden dollars) – com 1 dólar, dá para comprar 300 liden dollars. Os moradores da comunidade são os avatars. Ao entrar, você escolhe detalhes de como deseja ser: homem, mulher, formato do rosto, quantidade de músculos. E daí vai construindo sua rotina em uma esfera virtual, fazendo amigos e até casando com gente que, como você, circula por esse universo paralelo. E isso – acredite – está virando um tremendo negócio, que já movimentou mais de US$ 2 bilhões. Existem empresas anunciando dentro da tal cidade e o DJ FatboySlim fez um show exclusivo para os avatars. Ou seja: só os membros da comunidade tiveram acesso às músicas.

 

5. ACEITAÇÃO

“Não leve o espelho tão a sério – a verdade é que você é tão bonita quanto manda seu estado de espírito.” A frase é de um anúncio de cremes anti-sinais. Outra marca de cosméticos tem sua campanha calcada na “beleza real” e mulheres magras, gordinhas ou com uma barriga saliente desfilam sem vergonha, de biquíni, em uma praia. Se aceitar como você é, com seus quilos extras ou rugas, é uma tendência e a indústria já percebeu isso há algum tempo. A questão é que isso não significa que as pessoas farão menos cirurgias plásticas – vale saber que o Brasil ocupa o segundo lugar nesse ranking –, mas a idéia é que esses procedimentos sejam apenas um meio e não o caminho para se “sentir bem”.
Foto: Célia Mary Weiss

 

6. AFETIVIDADE

Nos anos 1990, aconteceu a explosão da web. A conectividade estava em alta. A partir dos anos 2000, a tendência passou para: viver da melhor maneira. É o ser feliz agora. O que mudou nosso curso? O acidente das Torres Gêmeas do World Trade Center, nos EUA, em 11 de setembro de 2001.
“Não é que se abandonou a busca incessante pela tecnologia, mas as pessoas se deram conta de que estavam perdendo outro lado: tinha muito high tech (alta tecnologia) e pouco high touch (toque). Estamos vivendo, por conta disso, a volta dos valores familiares, das relações mais profundas, da afetividade”, acredita Rony Rodrigues, da Box 1824.
Isso faz crescer campanhas como o Free Hugs (abraços grátis). A mania começou no ano passado, quando o australiano Juan Mann criou o hábito de ir a uma praça, em Sidney, todos os dias, segurando um cartaz com a frase Free Hugs (abraços grátis). Até que uma banda de rock, a Sick Puppies, gostou da iniciativa e fez um videoclipe com Juan, que mostra o dia-a-dia dele na praça e sua tentativa de abraçar e ser abraçado – tudo com trilha sonora! Isso foi parar no site de vídeos YouTube. Daí para ganhar o mundo e virar campanha mundial, foi um passo. No Brasil, já existem dezenas de comunidades do “abraço grátis”.

Na TV, o que vale nas relações é...
Estabelecer seu papel: homens e mulheres se assumem com suas fraquezas e vir tudes. Desperate Housewives (Sony): quatro amigas discutem seus dilemas em torno das relações.
Reconhecer a si próprio: o interesse pela vida dos famosos tende a diminuir e os relatos de “gente real” a aumentar.
Project Runway (People + Arts): reality show com aspirantes a estilistas.
Ter liberdade, com afeto: novos formatos de família, incluindo os amigos. Grey´s Anatomy (Sony): amigos e residentes de um hospital expõem seus dramas.

 

7. CONSCIÊNCIA

Hiperindividualismo. Esse é o conceito que permeia nosso atual estilo de vida, de acordo com os especialistas em tendências. Isso não quer dizer egoísmo, mas que estaremos com os olhos voltados mais para nós mesmos, para o crescimento pessoal.
Nessa trilha, estamos vendo, de acordo com o sociólogo Dario Caldas, o interesse crescente pela espiritualidade, que ele chama de budismo pop, e também a preocupação em se tornar único.
Um exemplo disso são as pessoas que marcam seus corpos com tatuagens ou se perfuram com piercings. É um jeito de se destacar no meio da multidão. Outro exemplo é a adoção de nicknames (apelidos, em inglês): uma possibilidade que foi reforçada com os programas de mensagens instantâneas, em que a maior parte das pessoas se dá apelidos. Para Marian Salzman, essa é uma maneira de reforçar a identidade individual e um jeito de se sentir parte de um todo sem perder a si mesmo.

 

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